Quando eu tinha uns 5 anos de idade, havia na parede do meu quarto, perto da cama, o quadro de um palhaço feito em lã com ponto cruz. Às vezes eu acordava no meio da noite, olhava o quadro e o palhaço parecia se mexer, fazendo caretas. Era, na minha mente de criança, assustador. Isso foi há quase 40 anos. Reencontrar este quadro caído no chão do quintal da casa onde vivi a infância, parcialmente envolto em sombras, foi o que desencadeou esta segunda série do projeto “Quintal” – embora, um ano após realizar a primeira série, a observação da dinâmica dos objetos naquele espaço já apontasse para a continuidade. Em nossa cultura, onde sótãos e porões são praticamente inexistentes em nossas casas, o quintal assume em grande parte os usos reservados àqueles espaços. Um destes importantes usos é servir de depósito de objetos que não nos interessam mais, que não mais desejamos. Descartados no quintal, eles passam a gozar de uma existência em suspensão, como numa espécie de limbo. Não são mais usados, mas também não estão destruídos e nem descartados definitivamente. Ficam ali, a acumular estratos de tempo. Algum dia podem ser redescobertos, recuperados do esquecimento, ter a sua utilidade reinventada, ou, então, ser descartados para sempre. As fotografias desta série foram feitas em 2012 e 2013 no quintal da casa onde cresci e vivi até os meus 14 anos. Além de lugar de observação do modo de existência dos objetos, este também sempre foi para mim, durante a infância, um lugar de mistérios, de descobertas, de assombros, de contato com a natureza. Foi aqui também que fiz algumas de minhas primeiras experiências com a fotografia. Provavelmente, este é o espaço mais íntimo, mais pessoal que posso fotografar. |
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